Por Xingu Vivo
O aumento da violência em função do início das obras de Belo Monte
já vem se configurando como um problema em Altamira (PA), principal
cidade da região afetada pela construção da Usina. Somente
neste último final de semana, um menor de idade foi morto, um homem
teve o rosto desfigurado, uma delegacia foi invadida por quarenta
trabalhadores – onze deles foram detidos -, um resgate foi feito na
prisão e “justiça” foi feita com as próprias mãos.
Para os movimentos sociais, o fato apenas confirma a previsão feita
nos últimos anos. Mais grave, como também já apontado, é que Belo Monte
vem desacompanhada de políticas públicas e instaura um clima de grande
insegurança e um futuro incerto para as populações locais – em especial,
a juventude.
A avaliação é corroborada pelas autoridades policiais. Segundo o
superintendente regional da Policia Civil, o delegado Cristiano
Nascimento, não há efetivo suficiente para atender às novas
necessidades, que tem crescido com o início da construção dos
alojamentos do canteiro de obras da hidrelétrica. “Somente em Altamira, a
criminalidade aumentou 28%, do ano passado para cá. Neste período, não
foram trazidos novos policiais para a delegacia”, explica.
Nascimento lembra que a regional é responsável por atender nove
municípios da região, e não apenas Altamira. “Neste momento,
precisaríamos de 50% a mais do que contamos hoje”, acrescenta. Segundo
ele, este número dobraria, caso Belo Monte siga seu ritmo de construção.
“As conseqüências de uma obra como esta, ainda em fase embrionária,
são muito mais nefastas e complexas do que os discursos públicos do
Ibama e do governo deixam transparecer”, comenta a coordenadora do
Movimento Xingu Vivo Para Sempre, Antonia Melo. “A criminalidade cresce
e, claro, também cresce entre as camadas mais jovens e empobrecidas da
população. O que vai acontecer com toda essa juventude? O que vai ser da
vida aqui?”, questiona. Para ela, Belo Monte é um caos e o governo
sequer consegue colocar panos quentes em questões simples, como o
aumento do reforço da polícia civil na região. “Nem isso eles fazem, o
que dirá uma política pública séria que realmente trate de todas as
consequências desse monstro… A cidade está completamente fora de
controle. O governo e a Norte Energia simplesmente estão ignorando a
vida de quem mora no entorno deste monstro que eles querem construir”,
lamenta.
Condicionantes
Sobre as condicionantes, o delegado é bastante explícito.
“Sabe-se que há um planejamento para atender a região e que a Norte
Energia assinou convênio com o estado de R$ 174 milhões para a
segurança, mas entre o planejamento e a execução, tem um pulo muito
grande”. Para que haja contratações, é necessário haver concurso
público; e, segundo Nascimento, não há ainda nem o edital do concurso
lançado. “Ou seja, até que seja feito o concurso, e chamados e treinados
os novos policiais, estes só poderão chegar em, no mínimo, um ano”.
Para o representante do Instituto Socioambiental, Marcelo Salazar, as
obras de Belo Monte deveriam ter começado apenas depois que a região
estivesse preparada para suportar as consequências que uma obra deste
porte carrega consigo. “É um crime o IBAMA ter liberado essa licença.
Quem será responsabilizado pelo caos que estamos assistindo? O taxista
assaltado que não achou amparo na justiça e buscou soluções fora dela? O
delegado que não tem condições de realizar seu trabalho? A falta de
planejamento da prefeitura e do estado por não aparelhar a segurança da
cidade?”, pergunta.
Marcelo também credita a responsabilidade pela violência e desamparo à
Norte Energia e ao governo federal. “Eles conseguem planejar e executar
as obras, mas não consegue cumprir as condições prévias de preparação
socioambiental que uma obra dessa envergadura exige – e ainda afirmam
que tudo está sub controle, escondendo a sujeira, o descaso, os próprios
crimes”.
Criminalidade
Um assalto violento a um taxista, ocorrido no sábado, 10, acabou levando
à morte de um menor por ineficiência da justiça. Após ser roubado e
espancado, o motorista chegou a delegacia apenas em roupas de baixo e
registrou ocorrência. A morosidade da polícia fez com que ele e outros
taxistas saíssem em busca dos culpados, houve um confronto e um rapaz de
15 anos, parente de um dos ladrões, acabou morto. Um taxista também
saiu ferido, tendo sido esfaqueado no rosto.
No domingo (11), a delegacia regional da Polícia Civil de Altamira
foi invadida por 40 taxistas. Eles renderam o delegado, um escrivão e um
agente, entortaram com as mãos as grades apodrecidas do presídio e
resgataram o colega acusado da morte do menor. Outros 11 taxistas
acabaram presos
Neste mesmo final de semana, uma mulher foi assassinada. O culpado
não foi encontrado. Na sexta-feira que antecedeu o feriado de 7 de
setembro, três jovens foram esfaqueados e mortos na porta de uma
discoteca na principal avenida da região central da cidade.