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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

15 anos sem Renato Russo

Luiz Felipe Carneiro

“Um belo dia, o público vai descobrir que o seu ídolo tem pés de barro, e é uma coisa muito dolorosa porque messias não existem” (Renato Russo)
 
Ele foi o último ídolo do rock brasileiro. Depois dele, não veio mais ninguém. E, arrisco dizer, nunca mais virá. Por Luiz Felipe Carneiro. Foto: Agência Brasil
Parece que foi ontem, e talvez tenha sido mesmo, que Renato Russo morreu. Mas lá se vão 15 anos. O que, sob um ponto de vista, pode parecer uma eternidade.

Eternidade porque Renato Russo foi o último ídolo do rock brasileiro. Depois dele, não veio mais ninguém. E, arrisco dizer, nunca mais virá, até mesmo porque o rock brasileiro não fabrica mais nada de minimamente razoável já faz tempo.

Às vezes eu me pergunto o que fez de Renato Russo um ídolo.

Encontro a resposta facilmente em seus álbuns, especialmente nos da Legião Urbana.

Um dos primeiros LPs que Renato Russo ganhou foi o “White Album”, dos Beatles, quando ele morava em Nova York e tinha nove anos de idade. E isso explica muita coisa. A influência do tal disco branco, de certa forma conceitual, pode ser ouvida em qualquer trabalho da Legião. Ao invés de um amontoado de faixas, cada álbum da Legião Urbana era um “Álbum”, daqueles com início, meio e fim. Impossível de ser entendido sem a cuidadosa audição da primeira à última faixa. Eu fico imaginando os intermináveis exercícios de Renato Russo, Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Rocha (esse último até o terceiro disco, “Que país é este”) para chegar à relação final das faixas. E imagino o quanto Renato Russo não ficou louco, onde quer que estivesse, quando, recentemente, relançaram os discos da Legião em vinil, e, devido a um erro da fábrica, “Soldados” encerrou o lado B do trabalho de estreia da banda, ao invés de “Por enquanto”.

Acho que a Legião começou a se transformar no que foi quando, na infância, Renato Russo sofreu de uma rara doença chamada epifisiólise, que o deixou seis meses sem poder se levantar da cama. Nesse período de convalescença, Renato fundou a fictícia 42th Street Band. Não existia música, é verdade, mas Renato bolou capas de discos, nomes de músicas e até uma biografia para a sua banda imaginária. O líder do conjunto se chamava Eric Russell.

Já adolescente, Renato Russo juntou alguns amigos da Colina, conjunto de prédios habitacionais da UnB, e fundou o Aborto Elétrico, já influenciado por bandas como o PiL e o The Clash. Nada mais apropriado para rapazes de Brasília que não tinham muito que fazer.

O Aborto não chegou a gravar nenhum disco, mas compôs algumas canções que, mais tarde, seriam distribuídas nos três primeiros álbuns da Legião e no primeiro do Capital Inicial. “Geração Coca-Cola” era uma delas. O hino dos “filhos da revolução” que berravam contra o regime militar. No álbum póstumo “Uma outra estação”, Renato voltou ao tema, mas, dessa vez, de uma forma menos romântica: “Eu sou a lembrança do terror/ De uma revolução de merda/ De generais e de um exército de merda”. Os “filhos da revolução” envelheceram.

Após uma briga com o baterista Felipe Lemos, Renato decidiu ser o “trovador solitário”. Só ele e seu violão. As músicas dessa fase podem ser encontradas no CD “O trovador solitário” (2008), idealizado por Marcelo Fróes.

De saco cheio de bancar o Bob Dylan, Renato fundou a Legião Urbana. Em 1985, com a força dos colegas dos Paralamas do Sucesso que levaram a fitinha da banda para a gravadora EMI, enquanto rolava o Rock in Rio, chegou às lojas o autointitulado álbum de estreia da banda.
Abertura do 44º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, onde foi exibido o filme "Rock Brasília, era de ouro" de Wladimir Carvalho. Foto: Agência Brasil
“Só um cego ou surdo não constataria de primeira que Renato era um John Lennon, Bob Dylan, Elvis Presley, Paul McCartney, Bruce Springsteen, Brian Wilson e Joe Strummer, tudo junto, num país tão carente de equivalentes nacionais”, disse o produtor José Emilio Rondeau, no livro “Renato Russo”, de Arthur Dapieve. Estava certo. Tudo o que a Legião viria a ser já estava lá naquele primeiro disco, da sonoridade ao conceito, passando pelas letras de Renato, claro.

A gravadora pensava que “Legião Urbana” não ia dar em muita coisa. Mas se enganou. O disco vendeu muito e gerou uma boa quantidade de singles. Para o segundo álbum, óbvio, a gravadora queria algo parecido com o primeiro. Direto e roqueiro. Mas lógico que a Legião não ia entrar nessa. “Todos os discos de uma grande banda são bons”, disse Renato Russo à MTV em uma de suas últimas entrevistas.

E, certamente, ele já pensava assim em 1986, quando peitou a gravadora, e entrou no estúdio para gravar “Dois”. “A gente se acostumou com o ambiente no estúdio, como se fosse a extensão de casa. Acreditamos que era realmente possível fazer música e discos a partir desse disco”, me disse o guitarrista Dado Villa-Lobos, em 2006, quando “Dois” completou 20 anos.

De fato, a partir de “Dois”, a Legião amadureceu. O álbum, que era para ser duplo e se chamar “Mitologia e intuição”, acabou sendo simples (“Todos os discos da Legião são duplos até segunda ordem”, dizia Renato), mas, mesmo assim, bem diferente do primeiro. As músicas rápidas e de letras mais simplórias deram espaço a canções mais longas e sem refrão, como “Eduardo e Mônica” e “Indios”. Nem por isso “Dois” deixou de fazer sucesso. Pelo contrário.

Na turnê de lançamento do álbum, a Legião tocou no Canecão pela primeira vez, ainda que no horário não muito nobre das sete da noite. Mal imaginava Renato (ou, de repente, imaginava sim) que, um ano depois, a Legião Urbana estaria lotando estádios Brasil afora. O show mais emblemático, durante o lançamento de “Que país é este”, aconteceu no Mané Garrincha, em Brasília, no dia 16 de junho de 1988. Um maluco invadiu o palco e agrediu o cantor com um canudo de plástico. O caos tomou conta do lugar e por sorte ou por milagre ninguém morreu naquilo que ficou conhecido como o “Altamont brasileiro”. 
 
Renato Russo, vocalista da banda Legião Urbana, conversa com Vladimir Carvalho, diretor do documentário Rock Brasília - Era de Ouro, que exibirá cenas gravadas pelo cineasta na década de 1980. Foto: Agência Brasil
Apresentações não muito convencionais, aliás, fizeram parte da história da Legião. Quando a banda lançou o lírico “As quatro estações” (mais um álbum em que Renato colocou as suas vísceras), houve confusão no Jockey Club do Rio de Janeiro. Animais na fila do gargarejo detonaram uma guerra de areia que quase terminou o show antes da hora. Em janeiro de 1995, dessa vez divulgando “O descobrimento do Brasil”, em Santos, Renato levou uma latada e passou os últimos 45 minutos de show cantando deitado. Foi a última vez que ele pisou em um palco. Antes disso, em outubro de 1994, a banda realizou três dos shows mais lindos da história do finado Metropolitan, no Rio de Janeiro, e que geraram o CD duplo ao vivo “Como é que se diz eu te amo”. Inusitadamente, as apresentações, registradas pela Rede Bandeirantes, nunca viraram DVD.

A verdade é que Renato não gostava de fazer shows. Não tolerava a violência dos seguranças que agrediam os fãs. Ele também costumava dizer que, durante uma apresentação ao vivo, se sentia como estivesse fazendo amor com 10, 20, 30 mil pessoas ao mesmo tempo. E, depois, caía em depressão quando ia dormir sozinho em casa ou em um quarto de hotel.

A Legião abriu a década de 90 com “V”, o seu trabalho mais pesado. “O réquiem do milênio”, como bem definiu o produtor e jornalista Ezequiel Neves. “O descobrimento do Brasil” veio em seguida e dava a (falsa) impressão, com a sua capa florida e alegre, de que seria o oposto de “V”. Ledo engano. Por dentro, mais um réquiem, inclusive o do Brasil, limpidamente esculpido em “Perfeição”.

A Legião Urbana abandonou os palcos. Mas não os estúdios. Em setembro de 1996, duas semanas antes da morte de Renato Russo, foi lançado “A tempestade ou O livro dos dias”. Antes, Renato ainda colocou nas lojas os trabalhos solo “The Stonewall celebration concert” e “Equilíbrio distante”, com músicas cantadas em inglês e em italiano, respectivamente.

Há 15 anos, jornais dedicaram cadernos especiais ao compositor da Legião Urbana. O Jornal Nacional alterou todo o seu noticiário para dar metade de seu tempo à repercussão da morte de Renato. Hoje em dia, com exceção dos velhos medalhões da MPB, qual artista brasileiro mereceria tamanha deferência?

A Legião somou pouco mais de 12 anos de carreira. E deixou um legado imenso. Dá pena ver qualquer banda hoje em dia lançando DVDs comemorativos de 10, 15, 20 anos de carreira sem ter o que dizer.

Às vezes eu me pergunto o que Renato Russo estaria fazendo hoje se vivo fosse. Segundo o próprio, a partir dos 40 anos, faria cinema. Depois dos 60, seria escritor. 
 

A banda Legião Urbana: Marcelo Bonfá, Renato Russo e Dado Villa-Lobos

Eu tenho as minhas dúvidas.

Para mim, a Legião Urbana nunca deixaria de existir.

A Legião não era só uma banda. Era a representação de seus fãs.

Ou como Renato Russo gostava de dizer: “A verdadeira Legião Urbana são vocês.”
 

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Reedição completa da obra de Pink Floyd chega às lojas na próxima semana



Patricia Rodríguez

Nick Mason, Roger Waters e David Gilmour dividem o palco durante show que reuniu os integrantes remanescentes do Pink Floyd na O2 Arena, em Londres (12/05/2011)

Londres, 23 set (EFE).- Nick Mason, baterista e fundador do Pink Floyd, viveu uma "montanha-russa" emocional durante o processo de reedição da obra do lendário grupo britânico em todos os formatos, desde o vinil até o iPhone.
assim, reconheceu o próprio músico, de 67 anos, em um encontro com a imprensa nos lendários estúdios londrinos de Abbey Road.

A banda de rock progressivo lançará na segunda-feira a reedição mais completa de sua obra para que o "fã mais exigente" possa desfrutá-la em todos os suportes, tanto os tradicionais, como o vinil, quanto os digitais (CD, DVD, Blu-ray e Super Audio CD) e até em uma aplicativo para o iPhone.


Versões inéditas de clássicos como "Dark Side Of The Moon" e "Wish You Were Here", colaborações com outros artistas desprezadas até então e outras desconhecidas que foram gravadas há décadas foram desenterradas do baú de lembranças para formar a caixa especial intitulada "Why Pink Floyd?", que inclui os 14 discos da banda.


A ideia surgiu a partir de uma seleção de material contida nos arquivos dos próprios músicos, um projeto que chegou "no momento adequado", explica Mason.


"Penso que se nós tivéssemos feito há dez anos provavelmente nós teríamos feito o oposto. Isso porque as músicas pareciam cada vez mais interessantes conforme elas saiam dos arquivos", admitiu.


O lançamento da coleção ainda apresentará uma versão "super-deluxe", que inclui discos em formatos alternativos, canções não publicadas, filmes restaurados de shows e uma gravação da lendária atuação de "The Dark Side Of The Moon" em Wembley, no ano de 1974.


Em relação à diversidade de formatos, Mason expressou sua devoção pelo vinil e considerou que tanto a gravadora (EMI) como os artistas suspeitam que será "a última oportunidade de lançar um disco neste formato devido à enorme queda nas vendas".


"Além disso, o vinil nos encanta. Meu carinho pelo disco de vinil é maior que meu carinho pelo CD. É a última oportunidade que teremos, acredito, já que dentro de alguns anos nós baixaremos tudo pela internet. O vinil será algo muito específico".


"Em geral, essas lembranças associadas ao ano de 1967, quando tudo começou, e aos estúdios de gravação Abbey Road foram ótimas. Era assustador estar aqui; com todo esse grande suporte técnico, além dos Beatles no final do corredor, isso dava à situação uma outra graça", relembrou o baterista.


Da fase psicodélica, contida no inicio da trajetória, ao rock progressivo e sinfônico dos últimos trabalhos, o Pink Floyd, com suas letras carregadas de conteúdo filosófico e suas sofisticadas apresentações ao vivo, se transformou em uma das bandas ícones da cena rock com mais de 300 milhões de álbuns vendidos no mundo todo.


Em 1983, o grupo lançou seu último trabalho, "The Final Cut", com seus integrantes originais, Nick Mason, Richard Wright, David Gilmour e Roger Waters, que abandonaria a banda em seguida sem participar dos outros dois discos posteriores.


Agora, a pergunta no ar é se esta luxuosa reedição aproximará finalmente Roger Waters e David Gilmour, tento em vista seus conhecidos históricos de desentendimento. Mas, para decepção dos fãs, a resposta de Mason foi contundente: "Realmente, não".


"Não é um assunto no qual se deva investir tempo", disse. "Tristemente, não teremos chance para isso, a menos que aconteçam avanços na ciência", ironizou o músico.

Fonte: http://musica.uol.com.br/